GAGO DE PROVETA.




Quantas luzes apagam-se à nossa frente, e crateras de adversidades rompem no solo das nossas existências acompanhadas por chuvas intempestivas de granizo que despencam ferindo a cabeça,os corpos e membros desprotegidos de incautos e eternos reprimidos.
Estes estão sempre às portas e na iminência de óbices de felicidade, desautorizados que estão de pensar, proibidos que são de ser.
Isto acontece com as vontades acorrentadas ao silencio imposto pelos outros,os outros em nós.
Entre as mais desprezíveis e intragáveis das maldições humanas comumente encontradas, a repressão é aquela que, mais estragos deixa nas paisagens das nossas impossibilidades de podermos superar infortúnios e enfrentar o amanhã. 
Afinal,descaracterizados, passamos a ser o outro  e somente o outro que, em nós, passa a deter  os significado das ideias e dos ideais possíveis de serem significantes e aceitos,só por eles.
E nós, seguimos anulados!
Quem reprime não autoriza que precisemos ter voz , nem vez. 
Opções só existirão àquelas que, no cardápio oferecido, já vem determinado, desde o ponto de saída, até os caminhos a serem percorridos com objetivos bem definidos, previamente urdidos na surdina do cavalgar autoritário planejado pelos senhores de todas as vontades.
É com se a mãe proibisse a criança de se expressar impondo o tacape controlador de tudo e de todas as coisas.
Nenhuma chance do rebento dizer nada se não quiser se arrebentar ao pretender formar sentido para as suas próprias razões certas ou erradas , sem o cabresto da intromissão e repressão constantes daqueles "cala a boca","fica quieto aí" ou o clássico : "Já para o quarto!".
E este indefeso que nasceu integro,saudável com todo o seu corpo e a mente aptos para qualquer desempenho, começa com o passar do tempo a ter dificuldades de pronunciar até mesmo as palavras , formar frases,pois fica sempre esperando a possível ameaça da mordaça castradora. 
Desenvolver seu  mundo em sua concretude interior,fica distante admitindo apenas ser a imagem dos outros, somente os outros dentro dele.
E de tanto de se ver impedido de expressar as suas intenções e liberdades através da fala,gestuais e possibilidade de exercer o contraditório,anula-se.
Repressão é a mais intolerável das maldições humanas!
E de repente nasce o gago que, antes parido integro e são, agora,no entanto,vê-se deseducado por mãos cerceadoras das suas livres necessidades de ser e que, asfixiado , um dia vai procurar na idade adulta, todos os especialistas e, de  nenhum ,obtém diagnóstico definitivo para a sua constrangedora gagueira.
Afinal,qual deles estaria pedagogicamente preparado para descobrir que, aquele ser humano nascido de  útero quente,acolhedor , generoso e libertário que tinha gerado um ser normal, agora, perdera o controle sobre aquela mãe daqueles novos tempos bicudos do não- absoluto.
E esta repressão desmedida e macabra  transformou aqueles embriões, antes em suspensão na bolsa salvadora do conteúdo aminótico acolhedor, em células desordenadas e aprisionadas numa proveta indesejável de uma educação retorcida em meio àquela fumaçeira de hidrogênio liquido que, congelou a fala de quem antes berrou alto ao nascer.

DE AVE MARIA À FRANCISCO DE ASSIS.





Ave amor, devolva-me a graça e se não estou contigo sinto-me um fruto imprestável entre pessoas sem rosto em pomar desconhecido,pois, só no seu ventre, aninhado nele,abraçado nele,sentindo dele o calor essencial e mesmo não sendo você Maria e  muito menos santa,torça, rogue,me levante,empurre-me para frente ,use sua sabedoria de mulher e me acalanta.
Quero meu céu aqui na terra,meu paraíso a seu lado,do resto neste momento declino.
Senhora das minhas vontades fazei de nós instrumento de nossas pazes e sempre que o ódio estiver presente,traga-nos o amor e quando as ofensas criarem asas e estiverem sendo intoleráveis,aponta-me o perdão.
Passa um fora nesta discórdia,pois, seu nome é união e desta forma sempre a vi.
Em meus momentos de duvidas e, não são poucos,confundindo isso com aquilo e aquilo com aquilo outro,planta a fé no meu pomar,revira e reforma de forma necessária a seiva que seca no meu interior.
Apague meus erros,acenda minhas verdades e se me desesperar você saberá onde confortar-me com seus cadinhos repletos de esperanças.
Se a tristeza me der a mão, quem se não você poderá trazer-me a alegria e iluminar de luz minhas trevas circunstanciais?
E quem além de você poderá me ensinar a consolar mais do que ser consolado e fazer-me entender que compreender é muito mais importante do que ser compreendido e que, ser muito amado só tem valor se pudermos aspergir este amor para o nosso entorno?
Portanto,vou lhe dar para receber,perdoar para continuar a ser perdoado e quando morrer, levar para minha vida eterna a certeza de que se não a tivesse amado,só teria passado por aqui, sem propósito, sem vida, sentimento e nenhuma emoção.