AMOR .

 





Frase usual, pouco criativa, engessada na mesmice de outras tantas vezes que ela já foi pronunciada, admitindo-se portanto, que as coisas entre os dois começaram comum demais para vir a ser diferenciada em amor romântico:
" Você é a mulher da minha vida"!
Frase pequena, menor, impulsiva e na maioria das vezes afinal artificial. Nenhum  amor começa colocando a vida subjugado ao amor. É uma simples questão filosófica de grandeza pois, a causa é a vida e nenhum amor pode ser como consequência maior do que ela. Aqui a epistemologia escravizada a fatores paradigmáticos que regem as relações interpessoais, não abençoa os exageros que se traduzem mais em falsos galanteios do que na essencialidade do sentimento. O amor deve ser tratado com a terra muito bem adubada neste jardins de sonhos que todos os pretendem plantar até que acabe. Outra fanfarronice é acreditar que só a a morte os separariam. Do ponto de vista dos outros, considerar alguém a mulher da sua vida é cometer um erro quase pornográfico e ofensivo as liberdades hoje, tão elevadas. É uma atitude que, se não fosse escondida entre emoções duvidosas quando ditas, certamente a maioria dos movimentos feministas o considerariam machista. Ainda não a consideram, ou será que sim? Além de machista tem um ar inevitável de autoritarismo encoberto em argumentação falaciosa como se quisesse estabelecer uma panaceia para todos os males vindouros e naturais no relacionamento a dois: Aquele que perde um dia a mulher da sua vida, perde a própria vida? Nestes dias moralmente pictóricos de hoje a resposta é não! Não tenho visto mulheres declararem que aquele é o homem da vida dela. Amam de menos? Lógico que não, apenas diferentemente dos homens (salvo interesses pecuniários , o que atualmente são bastante comuns) por parte dos corações femininos, tenho a certeza de que elas ainda continuam mais precavidas nestes arroubos emocionais. As mulheres são mais sábias e devem sempre investirem nelas mesmos, tipo:
Seja você mulher, isso sim, a mulher da sua vida!

EU TINHA UMA VELHINHA.

                                                                            



Eu tinha uma velhinha, arrumadinha, sem corcunda nem buço, não era lá esta coisa em termos de corpão, coxão, bocão e até os seus lábios viviam sempre ressecados e descascando então ela os umectava com manteiga salvadora de cacau, nas improváveis situações nas quais a minha boca não pudesse exercer a mesma função hidratante.
 Fumava feito um dragão raivoso para manter enevoada como uma cortina de disfarce, aquele temperamento de capeta chupando limão, mas era minha distração, peça de reposição do meu fascínio pela vida, meu momento de paz, enlevo e sempre empurrando meu descontentamento e monotonia insidiosa da vida para o lixo.
Eu tinha uma velhinha que se você olhasse iria concordar que dava para o gasto e apesar de não servir para um banquete de orgias o meu amor por ela era muito maior que a tamanho do céu que jamais conseguia vê-lo em toda a extensão, só sentia! Era um criançola assumido a seu lado e gostava de ficar fazendo gracinhas para arrancar um sorriso dela, proeza é bem verdade meio complicada, complicada igual às desavenças entre árabes e judeus, mas com muito esforço ela para me agradar dava aquele  riso meia-boca e me satisfazia.
Em público admitia apenas dar as mãos, nada de beijos na boca de língua ou sem língua muito menos aqueles atrevidos abraços que entortam tudo e asfixiam. Nada disso! Era tão discreta que nunca a vi chorando e não sentia dor, era um muro de concreto contra as mazelas que geralmente derrubam qualquer mortal. Nela, nem fazia cócegas!
Essa velhinha que eu tinha, gostava de vê-la bonita e mostrá-la para os outros, elogiava,enaltecia, a colocava nas nuvens do sucesso social e todos ficavam embasbacados e no final da conversa agradeciam por ela existir. Então, eu ficava muito mais feliz do que ela.
Eu tinha uma velhinha que um dia achou por bem pisar no foda-se expressão esta que nem fazia parte do seu vocabulário rotineiro e me assustei, mas pensei: “É minha velhinha está me ameaçando novamente, isso passa!”
Não estava e nem passou, minha velhinha estava cumprindo uma promessa!
Então, chamo atenção de todos vocês: Jamais deixem que percebam que você é feliz. Combinem com suas velhinhas ou suas mocinhas, ou simplesmente o amor de vocês que são apenas um casal comum, nada de mais a acrescentar, nada de menos a tirar, apenas dois e nada mais.
Eu nunca acreditei em inveja, nem em invejosos, mas, gente que roga praga para destruir a felicidade alheia, hoje em dia eu tenho certeza de que existe e em geral essas pessoas têm mau hálito, são vegetarianas, fazem mais pilates e alongamentos corporais diários do que sexo! Sozinhas, vivem elogiando a sua relação, dizem que amam você até morrer, são seus eternos amigos e amigas, mas por dentro se forem mulheres, alimentam no útero dos seus desesperos aquela cobra que quer cuspir veneno e se forem homens estão armados até os dentes de ódio, pelo amor que presenciam e não conseguem alcançar.
Eu tinha uma velhinha, a velhinha deste velhinho que ao me dar um sacode no traseiro me fez sentir um ser humano igual a outro qualquer e que tirou de mim a probabilidade de viver até aos cem anos.
Porém, vivi o suficiente para amá-la.

A SABEDORIA DAS MULTIDÕES.

                                                                             




Sempre que estive junto a você sempre tentei que  fôssemos um só. Pretensão absurda neste mundo de distensões, relaxamentos e frouxidão de objetivos, no qual, o nosso umbigo é sempre o mais bonito e importante. Porém, apesar de corpos separados, continuo a insistir em querer que sejamos um só em pensamentos. O fato de você - de forma planejada e estratégica - não querer mais me ver pessoalmente torna indigno, feio e desarrazoado tanta sutileza que havia nos nossos olhares. E convenhamos, mancha com borrões inúteis nossas pinturas em afrescos que deixamos em cada calçada que pisamos e muros pelos quais passamos. E foram incontáveis. Então, insistindo como sempre, vou tentar equacionar esta sua contradição.
Ao me ver imagine que no lugar do meu rosto esteja a solidariedade. Isto mesmo, pois, neste mundo no qual o egoísmo fala mais grosso e rende muito mais ainda, eu não estarei ali. Percebeu?
Ao estar comigo pessoalmente, você não vai sofrer se no meu sorriso identificar sinceridade. Que é isto? Você então se perguntaria! Não estaria ali novamente, não seria meu rosto, afinal quantas pessoas sinceras você conheceu durante a sua vida? Pouquíssimas, não é? Porque teria  que ser eu, uma delas? Continuaria muito pretensioso! Toma vergonha,cara!
E se por todos os diabos, todos os males, todos os fingimentos personificados em amigos e nesta legião de ingratos e traidores que se amontoam mundo a fora e aquele montanha de seres humanos inescrupulosos e interesseiros, vagabundos de todos os matizes que vendem a alma por trinta moedas e que nos circundam, você ainda identificasse nos meus olhos o amor?
Ria , deboche, infle o peito, arregace as mangas da sua sabedoria e intelectualidade para  então desprezar sumariamente aqueles sinais enigmáticos, estranhos, fora dos atuais contextos e somente dignos de pessoas insanas, malucos de primeiras águas traiçoeiras prontos para afundar e com sentimentos esdrúxulos fruto de uma mente doentia que acredita no amor!
Desculpe, mas neste caso eu estaria ali sim! E sinto informar que seria eu mesmo sem pejo nem pudor a demonstrar coisa tão antiga, desatualizada, ponto fora da curva, desestabilizado emocionalmente, ferido e encharcado pelos respingos saídos das bocas daquela multidão que logo nos cercaria gritando: Babaca!