SOBRE OS AMANHECERES EM QUATORZE CAPÍTULOS.





                                                                       

Após noventa e quatro amanheceres contemplados e vividos com rara intensidade intelectual,morre o admirável escritor brasileiro Rubem Fonseca (1925-2020}. Seu coração o fulminou impiedosamente coração esse que fez brotar seus maiores e melhores sentimentos com os quais bordava em letras inconfundíveis seus contos e romances.Nos anos cinquenta esse mineiro de Juiz de Fora , já morando no Rio de janeiro torna-se comissário de polícia e talvez por esta razão ele tenha inaugurado a corrente "brutalista" na literatura pois, suas obras são sempre - e aqui sem ledos enganos -marcadas pela forte linguagem policialesca e violenta do Rubem Fonseca, advogado criminalista e estudioso de medicina legal .Este suburbano carioca ao se despedir de todos os amanheceres que  ainda poderiam vir ,no entanto,  morava no bairro do Leblon no derradeiro infortúnio e deixa uma obra de dezenas de excelentes livros para os quais esmerava-se em dar títulos, sugestivos e criativos como no seu último de 2011: Axilas e outras historias indecorosas ou O buraco na parede ,A coleira do cão,Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos,E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto entre outros.Mas aqui vamos dar uma rápida olhadela em Feliz Ano Novo de 1975 uma coletânea de contos sobre a violência urbana e censurado pelo golpe militar de 64 e que só viria ser liberado em 1985 que passa a ser o ano da graça para a cultura brasileira após ter sido cerceada em tomar conhecimento desta obra maravilhosa pelo obscurantismo obtuso cultural e intelectual de meia duzia de generais no poder. Neste livro Rubem Fonseca expõe o eterno contraste e a revolta entre aqueles que tem tudo versus os outros que não tem nada e num assalto a uma festa  de abastados ,em geral indiferentes aos miseráveis que apenas sobrevivem,dois malandrecos ouvem a frase que iria desencadear nesses assaltantes a frase provocadora que despertaria os instintos mais selvagens e cruéis da dupla:" Podem levar o que quiserem ,pois não me farão falta nenhuma".Ensandecidos então pelo menosprezo que estavam sendo submetidos como profissionais do crime e atingidos naquilo que mais desejavam que, era o de mostrar do que seriam capazes os humilhados e miseráveis os eternos alijados da sociedade de comerem também um pedacinho  da cereja do bolo, os assaltantes passam a  cometer atrocidades que variavam de mortes até estupros dos quais nem uma velhinha escapa.Na obra fica evidenciada a pouco e provável possibilidade de entendimento entre os ricaços dos perfumes importados e os outros que vivem em condições sub humanas de barracos que fedem o fedor da injustiça e desigualdade social.Sabemos todos que,nada justifica a violência, muito menos a pobreza, porém, algumas palavras soam como verdadeiras senhas para aqueles que vivem em meio a tanta miséria a seu redor e que dela são também seus personagens principais. Soam para os já tão humilhados como deboches desnecessários e absolutamente imperdoáveis.Quer que eu minta?

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