BATISMO

Estou publicando uma jóia de diálogo da atriz e blogueira carioca Angela Vasconcellos ambientado no calorento e não menos simpático bairro de Bangú, aqui no zona norte da cidade do Rio de Janeiro, no dia em que mais um bloco surgia e com um nome exatamente, como o carioca gosta: Engraçado!

Todos podem conferir, além desse, um punhado de outras postagens excepcionais, no endereço:

http://tracasetrapacas.blogspot.com.br/



BATISMO

Bangu. 180° a sombra. Vapor subindo. Cabeça quente.Nem e Zequinha do Bar jogam dominó e conversa fora.
- Colega, tá dando pra fritá ovo na testa.
- E eu num sei?
- Quanto tá fazendo, uns 45°?
- Por aí.
- Ainda tenho que pensá na fantasia do bloco.
- Tu vai mesmo fundá um bloco?
- Já tá fundado, só precisa de nome.
- Tem que sê fantasia leve, rapaz, se não o povo vai morrê no calçadão.
- Que calçadão, Zequinha. Vou levá o bloco pra outras parada. Tô querendo ir pra perto do mar. Assim, quando o corpo esquentá, o marzão refresca.
- Pediu licença na prefeitura?
- Num sei pra onde vou levá, cumé que vou pedir licença? Vou na marra.
- Vai dá pobrema!
- Que pobrema?
- A polícia vai mandá circulá, nem vai saí da concentração.
- A gente finge que desconcentra e vai mais pra frente.
- Olha lá, hem? Tu pode ir em cana.
- Cana, nada. Jogo um lero de carnaval e coisa e tal, digo que é um bloquinho de pobre e neguinho libera.
- Tu que sabe, né?
- Teu jogo tá moleza, tu tem pouca pedra na mão.
- Sorte é sorte, que que eu vou fazê?
- Vou morrê com esse catatau na mão.
- O bloco sai quando?
- Tô querendo no sábado porque domingo vou pro viaduto, vê minha escola passá.
- Tá encima do lance, Nem.
- Pois é.
- E tu num tem fantasia e nem nome.
- Mas, também, negão, com essa lua na cabeça, num dá pra pensá direito.
- Fora os mé que tu entorna.
- O mé é pra esfriá a estufa, sem mé o sangue ferve.
- Aí, bota fantasia de nenem, fraldinha e mamadeira de cana.
- É uma, Zequinha. Fantasia fresquinha e leitinho pra mantê a criança hidratada.
- E as mina vão de babá. Sainha, top e touquinha.
- Gostei. Pro calor que tá fazendo, é uma boa.
- Me avisa com antecedença, vou levá uns isopor no carrinho e faturo umas breja.
- Só se tu perdê uma mão de dominó. Tu só ganha de mim!
- Nem, só perco se não jogá.
- Tá legal, te aviso com antecedença.
- Cara, mas tá muito f#*a esse calor, inferno perde de Bangu!
- Bangu é o verdadeiro inferno do Rio.
- Que música a banda vai tocá?
- Tava pensando em fazê um repertório só de música que fala de calor.
- Manero, legal.
- Então, vou botá "que tudo mais vá pro inferno" do Rei, Alá lá ô, Pode vir quente que eu tô fervendo, essas parada, falá da quentura, que é a realidade da comunidade.
- Saquei, vai protestá, né?
- Também, mas eu vou é me esbaldá.
- O pessoal tá bem animado.
- E eu num sei?
- Tá todo mundo na maior pilha.
- O nome é que tá pegando.
- É, tá mais que na hora de tu bolá o nome.
- Tô achando que vou copiá o nome de um bloco de bacana.
- Nem vem com Banda de Bangu!
- Que isso, rapaz, tu acha que vou copiá Banda de Ipanema? Neguinho aqui é macho!
- Nem todos, né?
- Mas não liberam a franga.
- É, fica tudo na moita.
- Não, tem que ser um nome que case com o lugá que a gente vive e com as música que nós vai tocá.
- Vai falando aí os nome dos bloco da zona sul.
- Num é só zona sul que tem bloco de bacana, não. Tem o "Imprensa que eu gamo".
- Esse nome é du car*#*#o!
- Num é? Tem o "Simpatia é quase amor", tem "Carmelitas", tem "Gigantes da Lira", tem "Suvaco de Cristo", tem...
- Achei, Nem, achei o nome do bloco do inferno.
- Bloco do Inferno?
- Não, cumpadi, " Quisila do Capeta"!
- Hem?
- Num tem "Suvaco de Cristo"? Então, Bangu tem "Quisila do Capeta"! O suvaco do demo é a "Quisila do Capeta"!
- Genial, Zequinha, tá batizado!
- Agora, joga Nem, antes que as pedra do dominó derreta.

SORRISO NA BOCA DE UMA MULHER!





Um sorriso de mulher incendeia qualquer canavial de amor que estejamos cultivando como safra única, e cuidadosamente, regada ,com carinhos e merecidas atenções sempre que o almejado, seja uma colheita generosa.

E com certeza de muitos caules que serão transformados no açúcar nosso de cada dia e, quem sabe, numa consistente rapadura de doce e eterna paixão.

O homem que resiste ao sorriso de mulher é um doente inveterado, sem alma e desnudado de sentimento, absolutamente nu de graça, jeito e sem nenhuma possibilidade de ir para o céu.

Vai curtir é no purgatório da sua pós vida um merecido sofrimento por não ter valorizado o sorriso de uma mulher.

Pois ele, pode ser o veneno e antídoto, morte e vida, luz ou treva, sorte e azar,mundo e o fim dele, depende de como é tratado .

Então, o que falta para que um homem respeite e adote o sorriso de uma mulher como seu talismã dos eternos encontros e extasiados momentos de celebrações únicas de gratidão?

É tão pouco e é tudo, se faz entre dois lábios e uma generosa aparição de dentes, acompanhado com um dobrar de pregas e o franzir de dezenas de músculos da face.

Está aí a definição fisiológica do beijo, mas isso é tão pouco!

A grande verdade é que, sempre se deve ao final de um sorriso da mulher, eleita no escrutínio universal e votação secreta das nossas opções afetivas, calar-lhe e tampar-lhe a boca com uma demorada resposta de agradecimento e a mais ardente possível, sempre com um beijo não-técnico.

Daqueles que ela possa ter a impressão de que, nunca antes tivera sido beijada assim, na sua vida!

QUANDO CRIANÇA. QUANDO ADULTO!


As fases inevitáveis do nosso crescer,passar disso para aquilo,desejar mais tantas outras coisas do que, outras coisas tantas que, antes desejávamos ,é deixar de ser criança e nos tornarmos adultos.

Inexorável,irreversível é todo um processo.


Simples assim!

Quando crianças costumamos machucar o corpo e os tornozelos, canelas, braços , cotovelos e cabeça, são nossos alvos preferencias de ataques deles contra aquilo ou daquilo contras eles.

E como ferem, vivemos pintados de muito mercúrio cromo, enfaixados com gazes,colados com esparadrapos e eventualmente , quando o ferimento quebra, nos imobilizam com gesso.

As marcas que ficam são visiveis, externas,explícitas e contundentes.

Quando adultos, machucamos a alma!

Ferimentos insuportáveis, sufocantes e indesejáveis!

Não ficam expostos, ninguém vê depois as cicatrizes, sorrateiros nódulos, escondidos lá dentro como ninhos abandonados pelos pássaros filhotes e a mãe que se perdeu, na fúria incontrolável dos ventos e chuvas devastadoras.

Acho muito mais perigosas as brincadeiras dos adultos.

Quer que eu minta?

EU NO OUTONO!









O sol na estação que foi embora,iluminou muito fortemente cada porção de nós, bronzeou e explodiu em calor as menores centimetragens das nossas peles e ofegávamos em suores por entre ruas e nos esbaldávamos em exposição nas areias quentes das praias.

Certa economia de roupas ou nudez parcial era consentida no convívio diário e o conjunto da obra dos corpos era mais generosamente mostrado,admitidos como coisas de verão!
O outono baixa um pouco nossa bola ,diminui a freqüência cardíaca,prepara para as amenidades que por ai virão a partir de junho com um inverno meio verão, meio outono , meio tudo, principalmente nestas terras abaixo da linha do equador.
E depois com a primavera irá continuar a florescer tudo novamente dentro de nós.
Que venha o outono, outono austral do hemisfério sul e seu amarelar das folhas e prepare a natureza e a todos nós para continuarmos de estação em estação aptos a não perdermos o trem da vida, das esperanças e fantasias maiores e essenciais de nossa existência.
Um trem que envelhece, mas continua nos trilhos.
Quanto a mim prometo, em posição de genuflexão respeitosa, ver este outono como me lembrou Mario Quintana ao dizer que :
“Uma borboleta amarela? Ou uma folha seca que se desprendeu e não quis pousar?”
Não verei nenhuma folha seca amarelada que se desprendeu e não quis pousar e sim, borboletas multicoloridas que delas se transformaram que irão encantar-me com seus vôos para que eu continue a acreditar que já sobrevivi a tantas outras estações vida afora. É assim que verei as folhas mortas e amareladas em seus despencar derradeiros.
E estas minhas razões são de absoluta coerência pois,opto neste outono por continuar vivo!
Voando.
Quer que eu minta?