O PIOR DE TUDO.

No amor , o pior de tudo é quando perdemos a espontaneidade,os atos ficam protocolares, as ações medidas e repensadas numa fatal fita métrica,onde cada centimetro de palavra proferida pode gerar metros de discórdias e incompreensões.
Fica muito chato isso tudo!
A gente passa a se sentir estranho,pouco íntimos e distantes ,como se nunca tivessemos rolado na cama de forma despudorada , animal, sem freios,detonando e implodindo gozos fruto de explícitas contravenções morais de luxúrias da carne e contaminada pela necessidade incontida de sermos transgressores amantes.
As incertezas passam a marcar então, todos os instantes, isso que era aquilo, fica com jeito de ser aquilo outro,as bocas não se abrem mais em nenhum gesto autêntico que antes procurvam o que morder, beijar,sugar e os lábios que ficavam gelados e tremiam de tesão quando dos corpos grudados escorriam suores do calor de peles que se roçavam, na dança de ventre com ventre,agora expõem um indesejável sorriso amarelo,contido e quase falso.
Ficou tudo muito pior e o pior de tudo são aquelas atitudes cansadas e meramente protocolares,tipo:
-Primeiro você..
-Não ,você primeiro...
-Bem,se você quiser..
-Mas , e você não quer?
-Sei lá ,tanto faz!
Rola uma lágrima no seu rosto, e depois tantas outras lágrimas imensas e incontidas que encharcam o travesseiro, e para não parecer um estupro,levanto depressa, me visto e bato a porta para nunca mais voltar.


CHOCÓLATRA.

Eu não queria que fosse assim e foi,nem pensei em fazer aquilo e fiz,nunca pretendi ferir e feri,cara sou realmente, um caso perdido.
Lições da vida nunca me bastam e tenho a certeza que o que acontece comigo é praga de gente invejosa, afinal, sempre que descubro as respostas, mudam as perguntas,procuro sempre guardar direitinho os melhores caminhos para chegar aos corações e os marco com traços de giz no chão, para nunca mais esquecê-lo e quando vou procurá-los, chove e as águas apagam tudo.
Isso é proposital,não podem ser coincidências, não podem.Afinal as coincidências devem ser imparciais e estas são sempre contra.
Então,quem sabe, uma rezadeira daria jeito.Mas rezadeiras destas antigas que não são de religião nenhuma , apenas,rezadeiras e de palavras truncadas que aconselham:
-Mizzi fio do jeito que sussê tá, o homi pode te ajudar . Sussê pega garrafa de marafo e de marafo que vou dizer nome e deita com garrafa de marafo duas noites seguidas, sussê vai ver abrir seus horizontes mizzi fio!- finaliza em tom de bruxa ou fada madrinha, tanto faz.
Vai que você leva fé nesta rezadeira, faz o que ela mandou , se apaixona pela garrafa e fica cantando e dançando depois dias inteiros, aquele negócio de sentar na boquinha da garrafa.Afinal , o amor não é lindo?
Esquece rezadeira,esquece tudo e vamos apenas nos lembrar daquilo que nós sentimos quando nos beijamos na boca ... aquele sabor de chocolate.
Duvido,que a gente se afaste!

SABE O QUE MATA O AMOR?

Eu ainda era muito menino e queria ter um estojo para guardar lápis de madeira,lindo envernizado com fotografias de super-heróis fazendo aquelas poses para impressionarem ainda mais as crianças.
Ganhei no dia do meu aniversário e fiquei absolutamente arrebatado e satisfeitíssimo com aquilo.
A tampa era de encaixe que corria em dois sulcos laterias pelas bordas da caixa e tinha medo de abrir para não quebrar nada,danificar o que eu tanto desejei por muito tempo e afinal,agora estava ali nas minhas mãos.
Ia para a escola com uma antiga,e não sentia nenhuma coragem de colocar a nova e bonitona em uso,nem sequer admiti a hipótese de que meus amiguinhos a visse.
Sabe lá se algum invejoso a quebrasse, ou quem sabe, outro mais afoito a roubasse de mim?
Nem pensar!
Para que nem meus irmãos não soubessem,enrolei a caixa de lápis num pano e a guardei , bem guardadinha em cima do armário e foi uma operação muito arriscada, pois tive que subir numa cadeira com os pés meio bambos, enfim...
Nem eu a conseguia mais ver, porém sabia que estava ali bem protegida e incólume das idas e vindas, naquela verdadeira redoma que não permitia que caísse ou quebrasse.
Muito tempo depois, minha mãe ao mexer na minha pasta de couro da escola e não vendo o estojo, perguntou se não a estava usando e disse que ela estava bem protegida e guardada.
Quis saber onde e mostrei e ela então a trouxe para baixo dizendo que deveria desfrutar daquilo e não fazer o que fiz.
Quando ela pegou no pano ele se esfacelou todo e lá dentro a caixinha tinha sido devorada pelos cupins.
Chorei muito.
Substitua agora minha caixinha de lápis pelo amor e não será difícil saber aquilo que poderá matá-lo.