A ÚLTIMA CRÔNICA.

 

                                                                            



Um pássaro precisa voar. Ter asas fortes, flácidas e grandes. Deverá sempre seguir as correntes aéreas para chegar mais depressa a lugar nenhum, porém antes que morra. O céu deve ser azul. Fundamentalmente azul. E que nele existam estrelas. Bilhões delas. E precisam brilhar intensamente para enfeitá-lo ,estimulando os poetas e orientando os homens do mar. Um céu despido de estrelas é um imenso pano preto triste aberto sobre nossas cabeças. Uma estrela que não brilha é carvão perdido no espaço. Os rios devem ser obrigatoriamente caudalosos. Sim, não podem confundir-se com riachos ou córregos pobres e magros filetes de água. Coisa de nada. Rios devem águas decididas. Eles possuem a incontestável personalidade das coisas poderosas, a necessária vaidade por ser assim e repudiarem o desleixos humanos ao querer sujá-los. Devem possuir e, na dose certa, uma arrogância bem construída que os impeçam de se transformarem em valões de dejetos humanos. Rio não pode ser esgoto. As flores devem ser belas. O sinônimo de flor é a beleza .Não existe outra opção para elas. Além de belas, perfumadas. Além de belas e perfumadas coloridas. Isto é uma flor. Assim como os pássaros, o céu, os rios e as flores nós também devemos ter um mínimo de atributos e características inerentes aos chamados seres humanos. Um ser humano não é uma pedra, muito menos fumaça. É humano. Então nesse ponto começa o conflitante impasse de toda uma civilização. Como conciliar desejos e realidades? Amor e necessidades? Instinto e razão? Vontades e possibilidades? Enfim, como conciliar esse ser humano com seu meio ambiente, inóspito, áspero, angular, poroso e por vezes insalubre. Insalubre e irreal. Sobretudo irreal, Sim, sobretudo irreal para os desejos e paixões humanas e progresso seja a que custo possamos pagar. Eu sou objeto ou sujeito da minha própria existência? Ator principal de destaque na vida encenando a maravilhosa criação divina ou um desastrado contrarregra carregados de cadeiras e arrumador de jarrinhas nessa santa ceia profana das iniquidades? Quem sou eu afinal? Um lacaio das imoralidades absurdas, das vontades podres das falsidades sociais e por vezes prostituídas ou um ser humano não-contaminado, livre, digno, responsável perante a mim mesmo por atitudes assumidas pelos atos cometidos? Devo tecer minha própria vida com racionalidade ética da minha inteligência ou deixar construir-me por uma devastadora e complexa máquina desumana e destruidora  do que poderia ser um futuro honesto para todos? Quem devo ser afinal? Um burocrata suado de um escritório de trapaças e negociatas tendo que reprimir meus valores para apenas ter e acumular, mas oprimido no tempo pelo espaço e  paredes que nos cercam e nos imobilizam nas neuroses das tantas telas de um computador, celular e ficar batendo palmas para a inteligência artificial? Deverei ser um boneco que dependurado por cordinhas balança a cabeça, pernas e braços comandado pelo líder maior dos maiores o tal exímio executor de marionetes que, modernamente entre nós, nem é intitulado pela palavra em idioma pátrio e sim de Ceo?  Deverei ser um simples seguidor desta monótona  vida de tantas milhões de vidas iguais, uniformizadas nas frustrações e recalques do correr atrás ou dizer não a um público idiota e mudar-me para outras realidades menos pueris e mais criativas? Deverei ser um concordato pseudo mocinho civilizado , pseudo educado e extremamente cativante que diz amém as bisbilhotices de calhordas que cafetizam em nome de Deus e enriquecem e enchem seus bolsos de todas as ofertas daqueles ludibriados a quem a vida nunca lhes fez um digna oferta de vida? O que deve ser um pássaro, o céu, os rios e as flores nos só podemos desejar e contemplar mas, fazer-se um ser humano, modelar-se com virtudes normais e desejáveis para todos , só nos mesmos através das nossas escolhas e ninguém  mais. poderia ousar em fazê-lo. É por estas razões que sou eu, com carradas incontáveis de defeitos e raríssimas virtudes ou qualidades. É por esta razão que todos os meus defeitos foram forjados na procura reta e autentica da honestidade de propósitos e metas de viver. E se meus pontos positivos são vistos como muito piores, pior na verdade foi para aqueles que me tenham idealizado. E nesse momento, lembro de uma cena de uma novela na qual e numa reunião de família em meio às acaloradas mazelas hipócritas de sempre o personagem atrevido levanta-se da sua cadeira  e diz: