É na sua dor que sinto o quanto com ela eu sofro. Essa dor
sempre extrapola de você e se irradia como a luz do sol em mim só que, os raios
não penetram suavemente quentes e sim, como pontas de espadas afiadas rasgando desordenadas,
fazendo sangrar.
Inevitável!
Tudo que antes eram os nirvanas existências agora viram
purgatório intragável e os pássaros despencam do céu como tijolos, as
borboletas voam estilhaçadas e
desfiguradas com jeitão de morcegos hematófilos de dentes afiados e
arrogantes, a poesia desentrosa e
entorta, a prosa cansa e enoja, os sons gritam desafinados em trinados
estridentes acuando minhas sensibilidades e a menina dos meus olhos se esconde
traumatizada.
Eu nem reclamo, só lamento porque afinal, o Deus de tudo e
de todas as coisas o qual eu tenho toda a fé podia sim, transferir tudo só para
mim.
Afinal se é que, tem que ser em alguém que seja em mim. E
mais ainda pelo fato de você nem acreditar Nele. Então me confundo. Eu acredito
e não sou atendido?
Acho que vivo pedindo demais.
Sei lá!
O que sei é que as dores em você são insuportáveis para mim,
e tenho plena consciência desta intangível impossibilidade de reverter.
A saída fica distante neste labirinto intrincado e só na
área da física quântica ou quem sabe nas esferas extravagantes da ficção
científica pudesse encontrar as dobras do tempo que desenrolassem minhas
limitações.
Preciso estudar mais.
Mas sei esperar, não como virtude, mas quando não se tem
outra saída e se as portas se fecham a chave de tudo é acreditar numa fechadura
dourada que algum gnomo encantado possa vir entregar em domicílio.
Bondade delivery.
E se me interessa sou muito crédulo.
Enquanto isso e sempre esperando este pacote de boas novas
que mande as más velhas para longe, recorro às recordações e vejo retratos, lembro
lugares e sorrisos, conversas intensas, olho no olho sem espaço para mais nada.
É assim que me sinto mais confortável neste edredom de
certezas de que pequenas outras vinte e quatro horas farão toda a diferença.
Quem sabe muito antes?