PODEMOS COMBINAR?

                                  



Um dia o sol acordará coração e nuvens no céu estarão disponíveis para ele como mantas brancas de afeto, envolvendo e protegendo aquele corpo pulsante de calor, com batidas compassadas, sempre ansiosas, à espera que a noite possa chegar.
E com ela a sensual imagem de uma lua mulher desnudada em corpo e luz, de seios fartos, ancas generosas e boca atrevida, obstinada pela certeza de uma dança inesquecível,naquele encontro celestial único.
Então, os dias e as noites serão uma coisa só, sem divisão, nenhum antes do outro, jamais aquele esperando por isso ou aquela na expectativa daquilo outro, como se uma grande e única estrada estivesse se abrindo no infinito dos firmamentos e os braços abertos de todas as estrelas os convidassem para o vinculo de uma caminhada só, sem solidão e definitiva.
Cântico coral de muitos astros se reunirá e os ecos de tão belas harmonias invadirão nossas vidas.
E pensar que tudo isso será feito em nome do amor.
E não será muito, nada nunca será muito para fazer ferver o amor no tacho mágico da feiticeira sábia ou da fada madrinha, entre gnomos brincalhões.
A brincadeira é a coisa mais séria em qualquer amor, aquilo que afasta a mesmice, enxota os sapos zoiudos, as cobras astutas, os vitupérios, as injurias e maledicências invejosas dos terceiros, alguns sempre do contra.
Ser feliz é eleger o amor através do sufrágio universal das nossas trocas de afetividades constantes, depositadas em urnas lacradas pela maior motivação que pode e deve mover o ser humano em direção à sua própria transcendência, quando ele tira o pé do chão e alça voo rumo ao esperado encontro.
Democracia alada da alma!
E ser feliz no encontro é olhar o sol que, agora transmutado em coração, abraça a lua mulher desnudada,simples, complexo, reto, sinuoso e contraditório.
O amor que não souber conviver com o contraditório e defender-se sempre das probabilidades indesejáveis dos afastamentos, é apenas submissão.
Afinal, o verdadeiro amor é muito melhor que cheiro de terra molhada por aquela chuva fina providencial e tão agradável como um grande final do Cirque du Soleil.
É aquele amor que não se rende às evidencias imprecisas.
Não aceita o inevitável como verdadeiro, pois, para quem ama, tudo pode mudar, e se não muda, não era amor, se não pula por cima das futilidades eventuais, não era amor, se não é capaz de superar momentos pífios por outros melhores era apenas uma simples acomodação de corpos, inútil, insossa, motivado por ânimos equivocados de carências quaisquer, ao preço de um e noventa e nove nos comércios das esquinas dos desencontros.
Podemos combinar então que eu seja um sol, acordando coração e você a lua desnudada em corpo e luz?
Se puder, puxa aí esta manta branca das nuvens da fantasia e quem sabe de ladinho, encontremos a melhor posição para vivermos a eternidade dos nossos sonhos.
Assinado, seu gnomo brincalhão.







UMA RECEITA DE AMOR.


                              

Então se viu um mar tão verde e nada de azul que, parecia folha de abacateiro e sempre ondulado em formas de mulher sedutora com níveis extremos de muitas oscilações sensuais.
Era um mar mulher diferente, com ondas de desejos fortes e incontidos.
Coisa para homem ver e se enfeitiçar.
Viram-se muito mais coisas e que, nunca antes se vira, pois os raios de sol às vezes e com severo rigor, ao refletirem na lâmina d’água e espraiando-se nos olhos de desatentos frequentadores, impedem a surpresa de eles verem aquele tanto de beleza e imensidão plena da mais pura altivez natural, uma visão de deslumbramento que só um verdadeiro amor desperta e, nos escolhidos.
O sol que ilumina também ofusca.
Mas,quando toca na água e toca no coração,através dos olhos de quem os vê, a vida então começa a fazer sentido e a felicidade provocada, ensaia fortes passos de aproximação, sem pejo nem pudor de chegar, nem de nenhuma outra forma tímida de arranjos que, possam impedir a possibilidade de que, tudo aquilo que os cerca conspire e grite: Vem!
Há momentos que nem precisam ser descritos, apenas sentidos, apenas vividos, ficando as palavras em descanso merecido.
Mas será possível mesmo passar sensações, afetos e sentimentos sem elas?
Sábias palavras de interrogação!
No entanto, considere que fortes palavras, por vezes inconvenientes podem ser o silêncio, podem sim, o silencio pode ser também, contemplado apesar das muitas palavras, pois, palavras que não façam sentido, silêncio é.
O meu mundo assim passou a ter você no colo,em silêncio, acariciando sua beleza, reverenciando seus melhores dons de generosidade, maturidade, inteligência e invulgar capacidade de entrelaçar meus sentimentos nos seus, num bater compassado de uma alegria em mim, mas que agora, já começava a despertar a atenção, não só do mar, mas de toda a natureza.
Ora bolas, como fazer crer a natureza que nosso amor não queria confronto, nem queria ser melhor, nem queria competir com tantas nuances extraordinárias de beleza de outros mares, e de tantos outros céus!
O jeito foi aprender a olhar para dentro de nós mesmos  que também, somos a natureza e todo o resto somos.
Essa era a receita, pois, todo o resto, sem nada que pudesse nos ver como um olhar de soslaio e de ameaça, pacientou-se.
Vieram os pássaros com palha nos bicos para ajeitarem seus ninhos, vieram os peixes em cardumes generosos, vieram os verdes, azuis, amarelos e tudo dos encantos da vida, vieram.
Os desdobramentos, a pura fantasia de um carnaval de todos os dias também.
Nada melhor que, jamais querer confrontos com a natureza, jamais querer tanta publicidade para o mundo, pois, amor que se fez pede proteção.
E esse tipo de amor, ao contrario de todos os outros não se divide, a não ser entre dois.
Acrescente agora, uma pitada de sal, leve ao forno da felicidade e deixe dourar.