SOBRE A SUA AUSÊNCIA E O ADÁGIO DE ALBINONI.

                   

Não é possível que nós seres humanos tenhamos a sábia capacidade de elencar com eficácia presumível e desejável as nossas mais desejáveis prioridades, aquelas que nos trariam o conforto de uma viagem em primeira classe no transatlântico de alto luxo das nossas existênciais expectativas afetivas.
Como são nossas, são sempre as mais importantes. Como são nossas as de ninguém as supera, e se falamos da ausência do ser amado,então nada faz o chão tremer tanto sob os nossos pés.
Ausência é um chá amargo com gosto de xícara mal lavada, de aspecto turvo e intragável,do primeiro ao último gole.
Parece que estamos sobrevoando em um precário aviãozinho de última categoria, um imenso deserto e de olhos atentos ficamos inquietos na cabine à procura de algo que não seja areia, e quando aparece lá embaixo um verdejante oásis, com água e árvores imensas de sombra, é somente mais uma miragem.
Isto significa que teremos que sobrevoar mais tempo, ir mais além, percorrer muitos mais dias, esperar por novas possibilidades menos angustiantes.
E ao esperarmos, fazemos figa e tentamos aprender novas fórmulas salvadoras em qualquer cadinho de bruxo experiente ou quem sabe, com um bom e caridoso gnomo amigo.
Afinal, a missão deles na Terra é sempre guardar e amar árvores e jardins e se deles,então conseguimos aquela esperada poção mágica, você que nasceu flor, jamais irá morrer em meu coração.
É possível que nada disso aconteça ou nada seja mais forte do que sua desnecessária ausência, e aquele transatlântico de luxo vire canoa e afunde, o chá amargo se transforme definitivamente em fel, o aviãozinho entre em pane e se espatife em queda desgovernada, os gnomos abandonem irresponsavelmente os jardins e os ventos contrários se tornem vendavais destruidores de todas as construções afetivas que erguemos.
Perdido então neste labirinto do qual nem o mitológico Minotauro grego conseguiria sair, de repente e de forma inusitada, faz-se uma calmaria, um silêncio incomum paira por todos os lados e a música que ouço é o Adágio de Albinoni.
Então, a cada nota musical vejo você representada, em dança leve nos passos de um balé mágico, correndo em minha direção, sôfrega, mas determinada, querendo me abraçar.
Uma grande orquestra sustenta em mim aquela fantasia inesquecível da sua presença e, os movimentos de bemóis e oboés de sons vigorosos agora abraçam os nossos abraços, os corpos dos instrumentos entrelaçam-se aos nossos corpos e posso ouvir sua voz balbuciando seguidamente em meu ouvido: Eu te amo!
Fico sem saber se aquilo foi uma fantasia ou realidade,se estávamos juntos mesmo ou apenas, mais uma vez, de passagem.
Seja como for, nem quero pensar em provocar novas ausências e, nada será mais definitivo para mim do que aquilo que meus ouvidos escutaram e saído da sua boca.
Eu não podia estar sonhando!


PS- CLIQUE NO LINK ABAIXO E OUÇA O ADÁGIO DE ALBINONI, POIS , SÃO SEIS MINUTOS E VINTE E SETE SEGUNDOS DE UMA ETERNA PRESENÇA DE BELEZA.
ORQUESTRA: ADRÉ RIEU.
COMPOSIÇÃO :TOMASO G. ALBINONI.
http://www.youtube.com/watch?v=BKJNcN89RMc

VIOLÊNCIA AGORA, É BIJUTERIA BARATA DOS CAMELÔS DA CRUELDADE.

                    


Adorno sem nenhum valor, bugiganga e quinquilharia descartável, custo financeiro mínimo que, enfeita e substitui as jóias raras, inacessíveis aos que não podem comprar safiras, diamantes, topázios em anéis, pulseiras ou gargantilhas de custo elevado.
Atualmente, são muito usadas e disseminadas em todo o mundo, mercadorias fácil de encontrar em cada esquina, amontoam-se às centenas em modelos variados de todas as cores, formas e aparências, nos tabuleiros dos camelôs da vida.
Quem as comercializam,porém, são honestos trabalhadores da economia informal.
No entanto,nisso se transformou também, e lamentavelmente, a violência como se estivessem disponíveis nas barracas expostas dos marginais da intolerância social pelas ruas, becos, praças e qualquer lugar das nossas cidades como mercadoria barata e que,usa as vidas humanas como metal, sem nenhum valor.
A violência tem sido assustadora, indiscriminada, banalizou-se e ficou tão democrática que, qualquer um, pode ser vitima dela, até mesmo dentro das suas próprias casas.
Todos somos reféns de uma bala perdida ou um assaltante imbecil e desumano que, após levar a carteira, tira também a vida do incauto, afinal, nestes tempos, no qual vivemos não basta fazer apenas um mal é necessário ser cruel.
Quando um leão abate um cordeiro, uma águia devora uma carcaça, os ursos saboreiam o salmão, isto faz parte da cadeia alimentar, é a lei da sobrevivência, os mais aptos continuam.
Porém, na vida animal, só se mata para comer.
Diferentemente, os seres humanos fazem turismo de caça, derrubam com suas potentes armas um imenso paquiderme, pela simples alegria de verem elefantes de várias toneladas ruírem por terra e ali deixados como carniças, a troco de nada, apenas um esporte.
O ser humano é o único animal, que mata o outro irracional por diletantismo, prazer,diversão, esporte, sem nenhuma necessidade e premeditadamente.
Entre nós, os chamados civilizados, um mata o outro, por alguma razão ou sem razão nenhuma, às vezes apenas porque o assaltado se assustou e faz um movimento mais brusco.
Quadrilhas armadas entram em edifícios de apartamentos, já transformadas em verdadeiras jaulas com uma variedade imensa de segurança e parafernália tecnológica de proteção que, no entanto, não impede nunca a fúria de quem entra e arrasta tudo que pode.
Se a própria violência interna do homem que, transborda como oceano volumoso não fosse o suficiente, ela agora é estimulada por imensas e destruidoras ondas de variadas drogas malditas desde as mais sofisticadas, até esta desgraça do Crack, vendida em pedrinhas malditas que, em pouco tempo, transformam um ser humano em lixo urbano, verdadeiros vodus ambulantes, um autentico filme de terror!
Gostaria de estar comentando sobre a imensidão de um céu azul, a graça de um bebezinho banguela, a beleza de um lírio do campo, o sorriso de uma mulher, dos vôos inocentes das borboletas, sobre o beija-flor, mas desculpe, a insanidade da violência humana está destruindo isso tudo.
Então, vou ficar lhes devendo!

A PERCEPÇÃO DA REALIDADE.

                 


Imagine que você seja de um mundo no qual só existam, pontos e linhas retas.
Uma noite você tem um sonho no qual aparece um circulo.
Acorda dizendo que, teve um pesadelo!
Nós só decodificamos, entendemos ou percebemos os elementos existenciais que fazem parte do nosso mundo intelectivo e da forma como fomos aculturados.
Perceba como as pessoas só descrevem extraterrestres com boca, olhos, orelhas, nariz, enfim, uma reprodução de um ser humano formatado, segundo suas impressões perceptivas do planeta terra, devidamente fantasiado de um ser do outro mundo: a cabeça é enorme, o corpo absolutamente, desproporcional, de cor verde...
Não é incomum que seres humanos, vejam uns aos outros, também desta forma.
O cantor Paulinho da Viola tem uma música que sintetiza uma bela verdade:
“A vida não é só isto que se vê, é um pouco mais, que os olhos não conseguem perceber...”
Billie Holiday canta:
“What a difference a day made, twenty-four little hours” e  traduzo só para lembrar: Que diferença um dia faz, pequenas vinte e quatro horas!
Veja que, em ambos os casos decreta-se a morte da permanência, da mesmice, dos sistemas fechados de ver a vida.
Nem tudo que consideramos o modo correto de ver o mundo e as coisas, é verdadeiro afinal, o outro, aqui para nós, também pensa!
O que estou falando é sobre a imponderabilidade dos sentimentos humanos, suas contínuas mutações e, naqueles ambos os casos, constata-se um indisfarçável convite à mudança para o novo e ao renascer.
E isto, é o que mais atemoriza o ser humano, provocam verdadeiros pesadelos existenciais. Então, algumas pessoas até se interessam mudar o comportamento de seus cachorrinhos e pagam adestradores para conter-lhes sua animalesca incapacidade comportamental de relacionar-se educadamente, com terceiros.
Aí a culpa é sempre dos outros.
E neste caso, dos irrequietos melhores amigos dos homens.
Afinal os círculos não existem para quem só convive com pontos e retas.
As águias, por exemplo, pássaros admiráveis sempre passam por uma fase das suas vidas, muito intrigante, para todos os cientistas, pois, ao sentirem que, suas penas estão caindo e suas asas perdendo o vigor, para sustentá-las em vôos altos, ela abriga-se nos topos dos rochedos e com o seu bico arranca todas as suas penas velhas.
Depois disto, dá furiosas bicadas nas pedras e destrói seu próprio bico. Semanas depois, todo seu corpo tem nova plumagem e o seu bico reaparece revigorado. Então, ela arremessa seu corpo no espaço e renasce num voo, digno de uma nova realidade.
Muitos de nós deveríamos fazer deste recomeçar da águia - seja isto fato cientifico ou inventado por mentes criativas - um novo momento mágico, único e admirável em nossas vidas.
A saudável procura de decifrar as incógnitas das nossas equações existenciais reforçara a certeza de que, a vida não é só isso que se vê, que pequenas vinte e quatro horas de um dia fazem toda a diferença.
Então, como o instinto da águia, poderemos nos expandir no infinito céu azul do renascimento, à procura de novas realidades e, pela porta da frente das nossas esperanças!



OS VÁRIOS MATIZES DA SAUDADE

                          

Quais as sutilezas de cores que predominam no matiz da sua saudade?
No todo das minhas saudades elas são muito explicitas, vigorosas, fortes e variam entre as cores maiores do carmim e, o vermelho pomposo, não admitindo nuances imperceptíveis de nenhuma tonalidade, a não ser aquelas que marcam profundamente, tudo que está agregado, aos fatos e vivencias dos momentos que passamos juntos.
Vigorosas lembranças das exageradas marcas que ficam escritas nos papiros da nossa história recente em cuneiformes de letras bordadas e que, destacam nossa plena felicidade.
Sinto assim,por força do meu temperamento, conseqüência de minha personalidade, pontos finais das minhas atitudes pródigas em relevos muito acentuados das minhas cadeias de montanhas afetivas, nas quais pelas estradas de serras íngremes que subo para lhe alcançar, são sempre muito bem sinalizadas e,por esta razão, inevitavelmente, a encontro entre o céu e a terra.
E nestes limites mágico desenha-se um horizonte sempre acolhedor, no qual eu me deleito naquele por do sol, justamente, quando a sua imagem reflete e se embaralha na cor de ouro do sol  que ele espalha e,  apesar de querendo descansar, ainda presta no final do dia, uma última reverência a você.
E muito bom sentir a vida assim, nossas lembranças e a saudade que, então me impacienta.
Sei que você trabalha com cores mais suaves, menos preponderantes nos matizes e nuances de cores do que as minhas.
Sei disso!
Somos dois, somos individualidades, elementos separados no espaço e corpos diferentes.
E por falar em corpos, o seu é meu absoluto desígnio.
Compreendo seu espanto pelo impetuoso da minha saudade, reconheço que extrapolo em adjetivos, ultrapasso medidas sensatas e usualmente, aceitas em declarações destas verdades, em geral.
Mas a minha, por ser absolutamente particular, eu consigo carregar no colo das minhas fantasias e ninar nos meus sonhos com todas as extravagâncias que, acho serem pertinentes à qualidade dos meus sentimentos.
Não é pelos matizes acentuados de expressar minha saudade que pensaria que a sua é menor, absolutamente!
São apenas diferentes!
E eu nem poderia viver sem esta sua tranquila maneira de pintar em cores de aquarelas  mais brandas a sua saudade e, peço que se acostume as  minhas exageradas,descomedidas,excessivas, copiosas e exorbitantes maneiras de senti-la, ao modo meu.
Está vendo como não tenho jeito, mesmo?
Nem precisavam tantas sinonímias para dizer que sinto saudade de você.