ENTÃO QUE SEJA, ETERNAMENTE EFÊMERO.



“Amar é ter um pássaro pousado no dedo. 
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento ele pode voar”.                         
                                                                       Rubem Alves*
                                                                                                                                     

O que importa se voar o pássaro do amor?
O que importa é que a monumentalidade, deste gesto, certamente, foi eu ter conseguido fazê-lo pousar num dos meus dedos, atraí-lo atordoá-lo, tirá-lo do seu norte, fazendo que desgovernado desabasse sem sustentação, em mim.
E se o pássaro do amor que foi feito para voar entre tantos corações, espreguiçou-se pousado entre nós, sentiu nosso calor, trocou conosco momentos de afagos, ouviu repetirmos juntos as mesmas frases, e sonhou ao nosso lado os mesmos sonhos de êxtases e paixão, e se foi assim, mesmo que voe... Ficará.
É isso.
Ficará daquele amor de passagem, os encantos, em tantos outros recantos os quais jamais imaginávamos um dia conviver, respirar em atmosfera tão pura, apesar de contaminada por odor forte de corpos amados, suados por gozos plenos em peles atritadas, excitadas, sentidas nas gostosas coisas destas nossas peles, coisas da alma, coisas da felicidade.
E se voar o pássaro, deixará o ninho. E ficará a vida, pelo menos aquela vivida e já com prazo de validade vencido, recolhida aos estoques agora indisponíveis, e distribuídos nas nossas prateleiras emocionais, como artigo invendável e apenas exposto para consumo da casa.
Pode ser efêmero aquilo que ficará eternamente inesquecível? Pode ser volátil o que aprisionaremos para sempre nas nossas lembranças?
E sempre que passar uma criança será lembrado, um pato preto o lembrará, um pedalinho n’água, uma cama desarrumada no dia seguinte, será lembrado.
Poderá ser esquecido, se sempre que esfriar o tempo sentirmos as névoas invadirem nossos pulmões a provocarem vontade de abraços, inevitavelmente beijos atodoardos, mas, bem vagarosos, compridos, sentidos e como manda o manual das nossas mais sábias etiquetas de convívio a dois?
Este pássaro pode voar de retorno aos outros espaços sem fim, mais o infinito mesmo do seu vôo, terá sido o dia que ele tiver pousado num dos dedos das nossas mãos.
Quando se for, deixará isto sim, o maior feito de todos os vôos, nenhum outro igual, e por ter sido assim tão incomparável, ele mesmo sentirá necessidade de repetir e voltar.
Nem será preciso. Não o faça, abstenha-se de voltar, é um aviso.
E sabe por que do aviso?
Nunca volte ao lugar onde você foi feliz para ali encontrar novamente aquela felicidade, pois, a paisagem estará tão irreconhecível que você teria preferido manter somente na imaginação o que, agora desaba por completo diante dos seus olhos.
Não volte pássaro, deixe ficar, somente o amor.



* Rubem Alves é psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro.


26 comentários:

  1. Concordo com esse texto de reflexão
    Nada é mais o mesmo quando passa o tempo
    E o pássaro voar ou não ........mas o verdadeiro amor fica
    sempre
    Abraços de boa noite e bom final de semana
    Bjuss
    Rita!!!!

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    1. RITA,

      estas lembranças são vivas e ficam aumentando em nós nossa maturidade enquanto pessoas.

      São vivencias construtivas e colocaram, em algum momento,novas modelagens em nosso modo de pensar,agir e amar.

      Um abração carioca.

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  2. Não gosto de retroceder... prefiro avançar. O que passou , passou pois vive o tempo certo. Lindo texto Paulo, bjus meu querido.

    => Gritos da alma
    => Meus contos
    => Só quadras

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    1. NADIA ,

      tem sido constante na história dos relacionamentos humanos estas duvidas entre chorar o leite derramado ou comprar outro litro de leite.

      Fico feliz em saber que você opta pela segunda hipótese.

      Um abração carioca.

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  3. Como não concordar com este seu belo e profundo texto?!

    Bom fim de semana.

    Em tempo: este casal aqui do lado(IDADE), parece que conseguiu que o pássaro continuasse pousado em suas mãos...

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    1. SÃO,

      é verdade!

      Certos casais oferecem ninhos tão acolhedores que, nenhum pássaro ousaria abandoná-lo.

      E o ninho é acolhedor quando impera o mútuo respeito.

      Um abração carioca e estou saindo pra comer uma bacalhau a Gomes de Sá.Servida?

      Um abração carioca.

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    2. Servida, sim, obrigada.

      Espero que estivesse a seu gosto, rrss

      Abraço grande

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  4. A felicidade é feita de momentos e estes não voltam ao mesmo lugar, não é verdade? Então seguir novos rumos e horizontes para captar novos momentos felizes e assim vamos vivendo. Realmente em nossas mãos sempre pousa uma borboleta qualquer inconstante e irá içá um vou... Então curtir a sua beleza neste pouso é tudo de bom! Abraços poéticos meu amigo! Saudades! O meu tempo para vir por aqui é que se estreita...

    Tudo de bom sempre!

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    1. ANGEL,

      conhece aquela passagem bíblica do mendigo que, agradeceu muito mais ao transeunte que lhe dera apenas uma moeda do que, ao outro que lhe dera mais de cinquenta moedas?

      Pois é, o que deu uma moeda , só tinha aquela!

      Saber que você tem tempo escasso e, mesmo assim o que sobra vem por aqui,me deixa muito orgulhoso e feliz.

      Um abração carioca.

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  5. Oi, Paulo.
    Eu acho que nossas vidas são marcadas pelas mais diferentes formas relacionamentos.
    Pena, que nem sempre podemos vivê-las.

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  6. INA,

    ou seja, quantos pássaros nunca pousaram no dedo das nossas mãos,quantos pousaram em dedos diferentes e aqueles que, foram embora , por absoluta fadiga e cansaço de voos forçados?

    Valeram todos,concorda?

    Um abração carioca.

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  7. Um texto que sempre gosto de reler.
    Bom dia carioca

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  8. Oi LIS,

    que ótimo poder proporcionar isso a você.

    Sinto-me realmente, recompensado.

    Um abração carioca.

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  9. Que maravilha de reflexão, Paulo!
    O importante é o que fica de bom nos pousos desses pássaros, pois se nao voltarem ja terá valido o voo!

    Abraços!

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  10. ENTÃO LU,

    foi exatamente esta a minha intenção de fazer ver que , se um dia este sentimento maravilhoso e insubstituível de amor,esteve presente, deixou sem dúvidas, sementes.

    E ninguém daqueles que o tenham provado, jamais esquecerão de como foram felizes ou...tentaram.

    Um abração carioca

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  11. Temos dez dedos nas mãos e dez dedos nos pés.
    Não importa a quantidade de relacionamentos;
    mas os que valem a pena.
    Abraços.

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  12. INA,

    é isso aí, eu nem me importo que sejam mais de 20, desde que SEJAM!!!

    Um abração carioca ou estou pedindo demais?

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  13. Bom dia, Paulo. Excelente texto. Faz-nos refletir bastante, uma viagem bem particular feita de momentos únicos como se fossem vários.
    Retroceder não é bom, se o pássaro partiu foi porque não encontrou mais um pouso aconchegante naquela mão, algo o incomodou e assim preferiu partir.
    Pessoalmente eu acho triste ter de voar e voar, bom seria que os pássaros fizessem morada eterna em uma mão somente e fossem felizes!
    Beijos na alma e paz de um lindo fim de semana!

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    1. PATRICIA,

      todos nós sempre torcemos para que, o amor romântico, sobrepuja a realidade,drible os problemas, contorne as situações adversas,enfim seja perene.

      No entanto,não dominamos a verdade, não temos a chave e a solução dos problemas todos então, passaras continuarão a voar.

      Um abração carioca e desculpe o atraso, pois estva viajando.

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  14. Paulo,
    Obrigada pela visita ao blog. Realmente amar é como ter um pássaro no dedo e esse pássaro se ele for sufocado, pode voar a qualquer momento.
    Big Beijos

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  15. LULU,

    seja bem vinda e volte sempre.

    Um abração carioca.

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  16. Paulo, muito bom ter você no meu canto, aqui tudo lindo.
    O amor é assim, exige sua liberdade, quer voar sempre mas com certeza volta para seu ninho.
    Bjo no coração

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  17. MARA,

    seja muitissimo bem vinda,e juntamente conosco vamos continuar a refletir e conversar sobre isto que deveria ser a uma e exclusiva preocupação do ser humano ao tentar sobreviver e, com muita dignidade ,paz e felicidade, neste nosso planetinha, ou seja: Amando!

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  18. Paulo...nunca li nada tão verdadeiro,tão emocionante.
    Li...li outra vez,repeti ,a cada vez que li mais gostei.

    um beijo
    veraportella

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