ACONTECEU DEBAIXO DO CHUVEIRO.




Eu era muito jovem e um dia pensei na minha morte. Estava debaixo do chuveiro e os pingos então começaram a doer no meu corpo como se fossem pedradas.
A idade foi chegando depois. Tinha muito medo do que estava pensando e achava tudo aquilo um desaforo pois afinal, me sentia imortal.
Hoje já muito menos menino e muito mais desaforado reconheço que o medo de morrer ficou guardado na minha inexpugnável caixinha de lembranças das coisas do passado.
Mas leva tempo para a gente reconhecer que é mesmo imortal!
Leva o tempo necessário para a gente compreender que só os infelizes pensam neste último ato e que quando encontramos a felicidade aí sim a certeza de que somos eternos.
Mas vou prevenindo se quiser ser imortal, veja as coisas materiais e a tendência à acumulação de bens com parcimônia e apenas as tenha, o suficiente para viver e ser feliz. Saiba também recuar. Saiba também reconhecer os erros. Saiba também ser melhor. Enfim, saiba!
E o maior dos saberes que podemos acumular e crescer sempre e apontado por aqueles que verdadeiramente nos amam.
E por falar em amor - e não estamos mais falando de nenhum outro tipo de amor e sim, exclusivamente agora do incondicional amor entre duas pessoas que se tornam uma, dois seres humanos que se entregam corpo e alma e suspiram juntos quando um ou outro ouve sussurrar em seus ouvidos palavras, frases ou o calor de lábios que se estalam fazendo que o tempo pare.
Tornar-se imortal e conviver com estes momentos de um eterno amor.
Então é muito agradável não sentir mais os pingos do chuveiro caírem como uma pedra sobre nossos atemorizados e infelizes corpos.

Portanto, espero todos vocês por aqui, para sempre. 

8 comentários:

  1. Paulo, comecei rindo ao ler a primeira frase, depois fui ficando séria igual a cachorro em canoa. Casualmente estou escrevendo uma crônica e falo em morte. Quando somos adolescentes, pensamos que somos imortais, exatamente isso, quando a felicidade é enorme. Com os anos, as orelhas vão murchando e caímos na real: um dia vamos, fui! Acontecerá e fiquei a pensar o sentido de tudo... Há algum sentido, meu amigo? Serão tantas as emoções... rss
    Belo seu texto, um dos melhores que li aqui.
    Beijo.

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    1. TAIS,

      o "sentido" a qual você se refere é sentirmos o amor que nos imortaliza apesar do desprendimento eventual de uma casca que protegia em "vida" nossa alma e abrigava nosso coração.

      E muito carinho como recheio.

      Um abração carioca.

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  2. Revisto-me com seu texto e, vejo-me diminuindo bagagens que vamos acumulando, muitas vezes supérfluas, e que após nossa partida, pouco, muito pouco, ajudará ou servirá para alguém! Quando jovens, presunçosos... Na maturidade, zelosos por um final tranquilo...
    Abraço.

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    1. CÉLIA RANGEL, e tratando-se de você devo curvar-me perante as evidências pois, sua bagagem intelectual é formidável.

      Mas a tranquilizo que a força do amor dos que convivem com você,jamais deixarão que nada se perca.

      E vamos viver intensamente a vida!!!

      Um abração carioca.

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  3. Ai que lindo, Paulo!
    Só tem que tive que ler e reler pois aquele dedinho apontando pra baixo, fazendo sinal de ok e dando tchauzinho me desconcentrou...ria toda hora. Fiquei alegre com essa visita.
    Abraço petropolitano!

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    1. SANDRA MAYWORM,

      obrigado por tudo , obrigado pela visita.

      Um abração carioca.

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  4. Paulo.Que lindoooooo! Um verdadeiro texto de reflexão sobre a vida! Basta tão pouco para sermos felizes e vivemos a acumular coisas que nunca preencherão vazios em nossa alma.
    Como disse no comentário no meu, esse seu post é para não se esquecer nunca!

    Adoro esse lado sério também.

    Obrigada pelas visitas e comentários tão carinhosos

    Feliz noite de terça_feira.

    Beijos sabor carinho

    Donetzka

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