EU TINHA UMA VELHINHA.


                                    

Eu tinha uma velhinha, aprumadinha, sem corcunda nem buço, não era lá esta coisa em termos de corpão, coxão, bocão e até os seus lábios viviam sempre ressecados e descascando então ela os umectava com manteiga salvadora de cacau, nas improváveis situações nas quais a minha boca não pudesse exercer a mesma função hidratante.
 Fumava feito um dragão raivoso para manter enevoada como uma cortina de disfarce, aquele temperamento de capeta chupando limão, mas era minha distração, peça de reposição do meu fascínio pela vida, meu momento de paz, enlevo e sempre empurrando meu descontentamento e monotonia insidiosa da vida para o lixo.
Eu tinha uma velhinha que se você olhasse iria concordar que dava para o gasto e apesar de não servir para um banquete de orgias o meu amor por ela era muito maior que a tamanho do céu que jamais conseguia vê-lo em toda a extensão, só sentia! Era um criançola assumido a seu lado e gostava de ficar fazendo gracinhas para arrancar um sorriso dela, proeza é bem verdade meio complicada, complicada igual às desavenças entre árabes e judeus, mas com muito esforço ela para me agradar dava aquele  riso meia-boca e me satisfazia.
Em público admitia apenas dar as mãos, nada de beijos na boca de língua ou sem língua muito menos aqueles atrevidos abraços que entortam tudo e asfixiam. Nada disso! Era tão discreta que nunca a vi chorando e não sentia dor, era um muro de concreto contra as mazelas que geralmente derrubam qualquer mortal. Nela, nem fazia cócegas!
Essa velhinha que eu tinha, gostava de vê-la bonita e mostrá-la para os outros, elogiava,enaltecia, a colocava nas nuvens do sucesso social e todos ficavam embasbacados e no final da conversa agradeciam por ela existir. Então, eu ficava muito mais feliz do que ela.
Eu tinha uma velhinha que um dia achou por bem pisar no foda-se expressão esta que nem fazia parte do seu vocabulário rotineiro e me assustei, mas pensei: “É minha velhinha está me ameaçando novamente, isso passa!”
Não estava e nem passou, minha velhinha estava cumprindo uma promessa!
Então, chamo atenção de todos vocês: Jamais deixem que percebam que você é feliz. Combinem com suas velhinhas ou suas mocinhas, ou simplesmente o amor de vocês que são apenas um casal comum, nada de mais a acrescentar, nada de menos a tirar, apenas dois e nada mais.
Eu nunca acreditei em inveja, nem em invejosos, mas, gente que roga praga para destruir a felicidade alheia, hoje em dia eu tenho certeza de que existe e em geral essas pessoas têm mau hálito, são vegetarianas, fazem mais pilates e alongamentos corporais diários do que sexo! Sozinhas, vivem elogiando a sua relação, dizem que amam você até morrer, são seus eternos amigos e amigas, mas por dentro se forem mulheres, alimentam no útero dos seus desesperos aquela cobra que quer cuspir veneno e se forem homens estão armados até os dentes de ódio, pelo amor que presenciam e não conseguem alcançar.
Eu tinha uma velhinha, a velhinha deste velhinho que ao me dar um sacode no traseiro me fez sentir um ser humano igual a outro qualquer e que tirou de mim a probabilidade de viver até aos cem anos.
Porém, vivi o suficiente para amá-la.

5 comentários:

  1. Há muito faço uso da expressão da "sua velhinha"... Catarse da vida! Só nos faz bem. E, uso sem moderação...
    Abraço.

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  2. CÉLIA RANGEL,

    esse negócio de terceira idade,melhor idade, idosa entre outras denominações é de uma falta de poesia completa, pois "velhinha" é um atributo insubstituível e rima muito melhor com vida!
    Beijo.
    Um abração carioca.

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  3. Velhinha é um termo carinhoso… Tive um amigo que dizia: "Velhos são os caminhos". E tinha razão… Gostei do seu texto.
    Uma boa semana.
    Beijos.

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  4. GRAÇA PIRES,

    e bota carinhoso nisso!
    Obrigado pela adorável citação do seu amigo que enriqueceu nossos comentários.
    Beijo.
    Um abração carioca.

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  5. O melhor tratamento pra mim é velha ou velhinha, como queiram. O que me deixa put@ da vida é quando dizem: aquela idosa, aquela vozinha, aquela senhorinha. Senhorinha acho até ofensa grave.
    Paulo, será que vc deixaria eu publicar esse texto no meu blog, Letras que se Movem, dando os devidos créditos e fazendo um link pro teu blog? Tenho um marcador" Dos Colaboradores" e seria nele que entraria o texto. Vou aguardar sua resposta, ok?
    Abraço, amigo!

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