A SABEDORIA DAS MULTIDÕES.

                                         



Sempre que estive junto a você sempre tentei que  fôssemos um só. Pretensão absurda neste mundo de distensões, relaxamentos e frouxidão de objetivos, no qual, o nosso umbigo é sempre o mais bonito e importante. Porém, apesar de corpos separados, continuo a insistir em querer que sejamos um só em pensamentos. O fato de você - de forma planejada e estratégica - não querer mais me ver pessoalmente torna indigno, feio e desarrazoado tanta sutileza que havia nos nossos olhares. E convenhamos, mancha com borrões inúteis nossas pinturas em afrescos que deixamos em cada calçada que pisamos e muros pelos quais passamos. E foram incontáveis. Então, insistindo como sempre, vou tentar equacionar esta sua contradição.
Ao me ver imagine que no lugar do meu rosto esteja a solidariedade. Isto mesmo, pois, neste mundo no qual o egoísmo fala mais grosso e rende muito mais ainda, eu não estarei ali. Percebeu?
Ao estar comigo pessoalmente, você não vai sofrer se no meu sorriso identificar sinceridade. Que é isto? Você então se perguntaria! Não estaria ali novamente, não seria meu rosto, afinal quantas pessoas sinceras você conheceu durante a sua vida? Pouquíssimas, não é? Porque teria  que ser eu, uma delas? Continuaria muito pretensioso! Toma vergonha,cara!
E se por todos os diabos, todos os males, todos os fingimentos personificados em amigos e nesta legião de ingratos e traidores que se amontoam mundo a fora e aquele montanha de seres humanos inescrupulosos e interesseiros, vagabundos de todos os matizes que vendem a alma por trinta moedas e que nos circundam, você ainda identificasse nos meus olhos o amor?
Ria , deboche, infle o peito, arregace as mangas da sua sabedoria e intelectualidade para  então desprezar sumariamente aqueles sinais enigmáticos, estranhos, fora dos atuais contextos e somente dignos de pessoas insanas, malucos de primeiras águas traiçoeiras prontos para afundar e com sentimentos esdrúxulos fruto de uma mente doentia que acredita no amor!
Desculpe, mas neste caso eu estaria ali sim! E sinto informar que seria eu mesmo sem pejo nem pudor a demonstrar coisa tão antiga, desatualizada, ponto fora da curva, desestabilizado emocionalmente, ferido e encharcado pelos respingos saídos das bocas daquela multidão que logo nos cercaria gritando: Babaca!

6 comentários:

  1. CIDÁLIA,

    sempre generosa.Obrigado!

    Um abração carioca.

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  2. Adorei!
    Um grito tão bem escrito!...
    Bom ler seu grito, sentir seu texto, escutar o amor a perambular pelas linhas sinuosas entre uma multidão ligada no automático!

    Beijos! =)

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  3. NADINE,

    multidão ligada no automático e sábia!

    Um abração carioca.

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  4. Bem, Paulo... Depois de tão realista texto, só nos resta mesmo buscar na sabedoria das multidões a energia necessária para não, nunca, jamais denegrirmos nossa imagem física e principalmente, mental!
    Abraço.

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  5. CÉLIA RANGEL,

    subscrevo integralmente!!!

    Um abração carioca.

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